segunda-feira, 17 de abril de 2017

10 FILMES INCRÍVEIS BASEADOS EM LIVROS SENSACIONAIS


Uma das mais tradicionais queixas que leitores fazem quando assistem à uma adaptação de seus livros favoritos é a quase inevitável: "O livro é melhor que o filme!" Geralmente é, uma vez que em 300 páginas um autor pode aprofundar sua história e seus personagens de maneira que um roteiro de 120 dificilmente consegue - principalmente porque literatura é uma arte de palavras, enquanto cinema é fundamentalmente baseado em imagens (que nem sempre são capazes de apreender tudo que o criador das tramas imaginou). Porém, de vez em quando, os astros se alinham e um roteirista talentoso realiza o milagre de agradar tanto os fãs dos originais quanto os eventuais frequentadores de cinema - além de conquistar a crítica e alguns prêmios, como o ambicionado Oscar. A lista abaixo (totalmente criada a partir de critérios subjetivos e pessoais), faz um apanhado de alguns roteiros - dos anos 90 em diante - que fazem jus à seu material original pelas mais diversas razões. Aproveitem para assistir ao que ainda não assistiram e rever os que já tiveram o grande prazer de ver.


01. ALTA FIDELIDADE (High fidelity, 1999) - Livro de Nick Hornby. Direção de Stephen Frears.


A transposição da ação de Londres para Chicago é a maior (e praticamente única) alteração entre o romance de Nick Hornby e o roteiro, escrito por John Cusack (também astro do filme), Steve Pink, Scott Rosenberg e D.V. DeVincentis. O humor sagaz e recheado de cultura pop dos anos 80 se mantém intocado na história do dono de uma loja de vinis (vivido por Cusack em seu melhor momento no cinema) que resolver fazer um inventário de seus relacionamentos para tentar descobrir os motivos que o levam a jamais se comprometer de verdade com suas namoradas (até mesmo com aquela que verdadeiramente ama). Com uma trilha sonora deliciosa complementando diálogos inteligentes que mesclam melancolia e bom-humor, "Alta fidelidade" é um dos clássicos de sua época. Vale também conferir "Um grande garoto" (2003), do mesmo Nick Hornby e estrelado por Hugh Grant: é igualmente bem-sucedido em transferir para a tela a agradável prosa do autor britânico.


02. CLUBE DA LUTA (Fight club, 1999) - Livro de Chuck Palahniuk. Direção de David Fincher.


Um dos filmes mais polêmicos do final do século XX, a adaptação do anárquico romance de Chuck Palahniuk, feita por Jim Uhls, serviu como uma luva para aquele tipo de conservadorismo que adora ver o cinema como o responsável por tudo de ruim que acomete a sociedade. Não é pra menos: o filme de David Fincher não apenas evita disfarçar qualquer tipo de violência como também não poupa o público de discursos críticos e controversos sobre a vida contemporânea (condenando sem meias-palavras o capitalismo e o consumismo desenfreado). Dono de uma ironia tão ácida que poucos perceberam logo em sua estreia, o filme naufragou nas bilheterias mas virou cult com o tempo, assumindo seu papel de obra-prima (mais uma) na carreira do diretor e de seus dois astros, Edward Norton e Brad Pitt (com quem já havia trabalhado em "Seven: os sete crimes capitais" (95) e voltaria a dirigir em "O curioso caso de Benjamin Button", de 2008). Além de tudo, tem a melhor performance da carreira de Helena Bonham-Carter, uma edição matadora e uma cena final clássica, ao som Pixies. Imperdível!


03. DESEJO E REPARAÇÃO (Atonement, 2007) - Livro de Ian McEwan. Direção de Joe Wright.


Só quem leu alguma obra do britânico Ian McEwan para saber o tamanho da encrenca em que o roteirista Christopher Hampton se meteu quando aceitou adaptar sua obra-prima, "Reparação". Um romance centrado basicamente em sensações e pensamentos, o livro era um desafio gigantesco para qualquer um, mas Hampton já tinha um Oscar em casa (pela adaptação de "Ligações perigosas", do francês Choderlos de Laclos) quando aceitou o desafio. E saiu-se muito melhor que a encomenda. Um dos filmes mais subestimados de sua temporada (apesar da indicação ao Oscar principal, que perdeu para "Onde os fracos não tem vez", dos Irmãos Coen), "Desejo e reparação" é um avassalador estudo sobre o poder muitas vezes destruidor da imaginação, através de uma personagem central (Saoirse Ronan na adolescência, Romola Garai na fase adulta e Vanessa Redgrave na maturidade) tentando consertar um erro irreparável cometido em uma noite de verão às vésperas da I Guerra Mundial. Dirigido por Joe Wright (que já tinha no currículo "Orgulho e preconceito", baseado em Jane Austen e que tinha a mesma Keira Knightley no elenco), é um filme inesquecível que honra cada página do livro original. Uma pérola mais do que rara, valorizada pela atuação de James McAvoy.


04. GAROTA EXEMPLAR (Gone girl, 2014) - Livro de Gillian Flynn, Direção de David Fincher.


Olha David Fincher na lista outra vez. Com sua tendência em valorizar o suspense de cada cena e transformá-la em um espetáculo próprio, Fincher encontrou no romance policial de Gillian Flynn o material ideal para um dos maiores sucessos de bilheteria de sua carreira. Rosamund Pike concorreu ao Oscar de melhor atriz por seu desempenho como uma jovem desaparecida no dia de seu aniversário de casamento e que põe a polícia atrás de seu paradeiro, fazendo da vida de seu marido (Ben Affleck) um inferno na Terra. Seguindo a estrutura narrativa do livro (adaptado pela própria autora) e pegando o espectador pela tensão constante e pelas reviravoltas bem construídas, o filme é um perfeito exemplo de thriller policial e mais uma prova do imenso talento do diretor em contar QUALQUER história. E além do mais, é um estudo minucioso sobre o jogo de aparências que é um casamento. Genial!


05. AS HORAS (The hours, 2002) - Livro de Michael Cunningham. Direção de Stephen Daldry.


Três mulheres, três tempos narrativos, três épocas distintas e o sentimento de melancolia profunda que as une através de uma única obra literária: "Mrs. Dalloway", de Virginia Woolf. Se lendo já é complexo e denso, é de se imaginar como seria em uma tela de cinema. Missão impossível? Não para o diretor Stephen Daldry (indicado então ao Oscar, por "Billy Elliot") e o dramaturgo David Hare, que fizeram de "As horas", do norte-americano Michael Cunningham, um dos filmes mais poderosos e inquietantes dos últimos anos. A estrutura do romance manteve-se intacta no roteiro (indicado ao Oscar) e a edição magistral, unida à trilha sonora impecável de Philip Glass, fazem do resultado final um quadro brilhante de coesão e coerência psicológica. Nicole Kidman (premiada pela Academia) vive a própria Virginia Woolf, em crise de depressão, vivendo nos arredores de Londres e escrevendo, no começo dos anos 20, o livro que lhe daria fama. Na Los Angeles do final dos anos 40, a dona-de-casa Laura Brown (Julianne Moore), grávida do segundo filho, lê o romance de Woolf e identifica-se com a protagonista enquanto mergulha em um estado de tristeza profunda. E na Nova York do final do século XX, Clarissa Vaughan (Meryl Streep), que herdou o nome da heroína da história, vive um dia similar ao dela, preparando uma festa para um amigo e antigo amante, hoje em estágio terminal de AIDS (Ed Harris). Como as três histórias se entrelaçam é o pulo do gato do livro e do filme, que dividem o tom de extrema melancolia e absoluta sensibilidade. Uma obra-prima inquestionável!


06. LOS ANGELES: CIDADE PROIBIDA (LA Confidential, 1997) Livro de James Ellroy. Direção de Curtis Hanson


Ninguém podia imaginar que Curtis Hanson, o homem por trás de filmes de suspense apenas razoáveis, como "A mão que balança o berço" e "O rio selvagem", poderia assinar o melhor filme noir norte-americano desde os anos 40. Baseado em um caudaloso romance de James Ellroy que abarca décadas de narrativa e quase uma centena de personagens, o roteiro coescrito pelo diretor e por Brian Helgeland deu à trama concisão, foco e, mesmo com algumas alterações substanciais em histórias paralelas, o equilíbrio exato de inteligência e violência - além de escalar um elenco impecável (que revelou Russell Crowe e deu um Oscar à Kim Basinger) e mergulhar o espectador em um universo fascinante e imprevisível. Sem contar muito, pode-se dizer que a trama acompanha um grupo de policiais de Los Angeles da década de 50 em uma investigação sobre corrupção dentro da corporação e o assassinato de uma prostituta sósia de uma estrela de cinema. Melhor filme de 1997, teve o azar de bater de frente com "Titanic" na disputa pelo Oscar e ficou com apenas duas estatuetas: atriz coadjuvante para Basinger e roteiro adaptado. Merecia muito mais.


07. NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO (Notes on a scandal, 2006) - Livro de Zoe Heller. Direção de Richard Eyre.


Só o duelo de interpretações entre Judi Dench e Cate Blanchett (ambas indicadas ao Oscar pelo filme) já seria motivo mais do que suficiente para que o filme de Richard Eyre fosse recomendável. Mas, para tornar tudo ainda melhor, o roteiro do dramaturgo Patrick Marber (do sensacional "Closer: perto demais") e a direção claustrofóbica de Richard Eyre fazem de "Notas sobre um escândalo" um programa obrigatório. Dench interpreta uma professora quase aposentada e pouco amistosa que fica obcecada com a nova colega de trabalho (Blanchett, linda e talentosa como sempre) a ponto de praticamente viver em sua função. Quando ela descobre um romance proibido entre a amiga e um aluno adolescente, resolve aproveitar-se da situação para dominá-la completamente. Tornando o romance de Zoe Heller ainda melhor, o roteiro de Marber não ousa na estrutura ou força situações dramáticas: seus personagens falam por si, com uma força potencializada por suas extraordinárias intérpretes.


08. RAZÃO E SENSIBILIDADE (Sense and sensibility, 1995) - Livro de Jane Austen. Direção de Ang Lee


Um cineasta nascido na Taiwan do século XX dirigindo um filme baseado no romance de uma inglesa do século XVIII? Poderia virar um samba do crioulo doido, se tal cineasta não fosse Ang Lee - um dos mais sensíveis realizadores de sua época, autor de filmes brilhantes como "Banquete de casamento" (93), "Tempestade de gelo" (97) e "O segredo de Brokeback Mountain" (2005) - e a escritora não fosse Jane Austen, dona de um senso de humor e uma ironia que a destacava das demais romancistas de sua época. Com o roteiro fiel e igualmente sagaz da atriz Emma Thompson, "Razão e sensibilidade" acabou por tornar-se uma das mais perfeitas transições para o cinema da literatura de Austen - também autora de "Orgulho e preconceito" e "Emma". A própria Thompson vive uma das protagonistas, duas irmãs de personalidades opostas que buscam, no fundo, a mesma coisa: um bom casamento (leia-se um marido bem de vida e que lhes dê o amor que merecem). A irmã impetuosa é vivida por Kate Winslet pré-Titanic mas já dotada de grande talento: concorreu ao Oscar de coadjuvante. No elenco secundário encontra-se também Hugh Laurie, que se consagraria anos depois como o infame médico protagonista de "House". Um filme agradável e realizado com a inteligência que se espera de Ang Lee e Emma Thompson.


09. O SILÊNCIO DOS INOCENTES (The silence of the lambs, 1991) - Livro de Thomas Harris. Direção de Jonathan Demme.


O mais antigo da lista, que já pode ser considerado um clássico moderno. Adaptado com uma fidelidade quase literal do romance de Thomas Harris, "O silêncio dos inocentes" deu à Ted Tally o Oscar de roteiro - em um filme que também premiou seu diretor Jonathan Demme, seu ator Anthony Hopkins e sua atriz Jodie Foster, além de levar ainda o principal troféu da cerimônia de 1992. A história da angustiante relação entre uma jovem agente do FBI e um serial killer canibal é, sem dúvida, um dos filmes mais importantes e impactantes da década de 90, graças principalmente à capacidade de Tally em sublinhar o que havia de mais importante na prosa de Thomas Harris e enfatizar psicologicamente a ação de sua protagonista - elementos que a direção, a fotografia e a montagem conseguiram tornar ainda mais poderosos. Um filme que não envelheceu um único segundo desde sua estreia.


10. SOBRE MENINOS E LOBOS (Mystic River, 2003) - Livro de Dennis Lehane. Direção de Clint Eastwood.


Clint Eastwood tem fama de realizar seus filmes de forma rápida e eficiente. Isso fica claro em "Sobre meninos e lobos", adaptado do livro de Dennis Lehane - autor também das histórias de "Medo da verdade" (2008) e "Ilha do medo" (2010) - e estrelado por Sean Penn, Kevin Bacon e Tim Robbins: sua narrativa é direta, seca e quase cruel, apenas ocasionalmente apelando para metáforas que amenizam a violência física e psicológica que permeia todo o roteiro. A história acompanha o reencontro forçado de três amigos de infância quando um deles perde a filha, outro investiga seu assassinato e o terceiro, vítima de abuso sexual quando criança, surge como suspeito. Penn e Robbins levaram o Oscar pra casa, mas o filme merecia mais: é triste, é realista e não recorre jamais a soluções sentimentaloides ou inverossímeis. Um dos melhores trabalhos de Eastwood e uma adaptação (de Brian Helgeland, de "Los Angeles: cidade proibida") de tirar o chapéu.

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